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quinta-feira, 4 de julho de 2013

Golpe militar derruba presidente eleito nas urnas no Egito

Um golpe militar derrubou nesta quarta-feira (3) o presidente do Egito, eleito democraticamente, Mohammed Mursi.  Em resposta à insatisfação de boa parte da população, o exército tomou o poder, suspendeu a constituição e anunciou que vai convocar eleições.  Veja mais informações no vídeo.
Mohammed Mursi era o primeiro presidente eleito pelas urnas da história do Egito e foi derrubado praticamente como um ditador. Em vez dos quase 30 anos de Hosni Mubarak, Mursi durou só um ano e três dias no cargo.

O Egito, que não chegou a saber direito o que é uma democracia, volta agora às mesmas dúvidas do fim da ditadura Mubarak: para onde vamos? Quem nos governa?

Quem começou a responder a essas perguntas foi um militar que chegou a chefe das Forças Armadas depois de nomeado pelo próprio Mohammed Mursi.

Pela TV estatal, o chefe das Forças Armadas anunciou que estava suspendendo a constituição, que convocaria eleições antecipadas e que o chefe da Suprema Corte vai assumir o país durante a transição.
A derrubada de Mursi foi recebida com uma festa gigantesca na mesma praça Tahrir que foi o cenário da derrubada da ditadura Mubarak. Mais uma revolução popular bem-sucedida? Golpe militar?

A multidão e os militares não chamam de golpe. Dizem que foi um mal necessário para devolver a estabilidade ao Egito e botar um novo presidente no lugar daquele que parte da população considera autoritário e ineficiente.

Antes de anunciar a queda do presidente, o exército tomou conta das ruas do Cairo e fechou as saídas da cidade. Eles tinham ordens pra impedir que Mohammed Mursi deixasse o país.
Mursi foi mantido sob custódia dos militares. Os militares chegaram a fechar emissoras de TV que apoiam a Irmandade Muçulmana e prender funcionários.
Na sede da TV Al-Jazeera no Cairo, eles interromperam a transmissão ao vivo das comemorações na praça Tahrir. Mais cedo, o agora ex-presidente do Egito divulgou uma mensagem na internet, que acabou sendo apagada.
Mursi dizia que as medidas anunciadas pelos militares são um golpe, e que continuava presidente.  O mesmo conteúdo apareceu em mensagens de um assessor de Mursi no Twitter.

Em uma delas, havia um pedido para que o povo não aceitasse o golpe militar, mas o povo não deve ter parado para ler.
Histórico
Já era madrugada no Egito e os manifestantes comemoravam a queda de Mohammed Mursi como se fosse uma festa de réveillon, o começo de uma nova era, mas os protestos de apoio ao presidente e a história recente do país lembram que é preciso cautela.
Mursi chegou ao poder em junho do ano passado depois de ganhar uma eleição apertada, na esteira da Primavera Árabe, do clamor por mudança. Em 2011, milhares de manifestantes foram às ruas protestar contra o governo do antecessor Hosni Mubarak.
O militar que governou o Egito por quase 30 anos renunciou e foi condenado à prisão perpétua. O vento da democracia não soprou como o mundo esperava.
O descontentamento com Mursi começou em novembro do ano passado, quando ele baixou um decreto que lhe dava superpoderes e limitava a ação do Judiciário. Foi a insatisfação do povo com a influência de grupos religiosos e com a combalida economia, porém, que apressou a derrocada do presidente.
O professor Moustafa Bayoumi, de origem egípcia, diz que a pressão dos manifestantes foi decisiva, e que um dos erros do governo foi defender apenas os interesses da Irmandade Muçulmana, o grupo político formado por fundamentalistas islâmicos. "Eles prenderam quem era crítico ao governo, violaram direitos humanos e as pessoas perceberam que não estavam representadas ali", afirma.
A instabilidade política e a violência afugentaram investidores e também os turistas, importante fonte de renda do Egito. A economia começou a fraquejar. O crescimento caiu e o desemprego pulou para 13%, em uma sociedade ainda muito desigual.
Com a tomada do poder pelos militares, Bayoumi não vê motivo pra otimismo. "Eu tenho medo quando veem os militares como salvadores da pátria. Hoje, depois do golpe, eles fecharam emissoras de TV. O Egito precisa de instituições funcionando: o Parlamento, o Judiciário e o Executivo. E os militares não podem garantir esse trabalho", diz.

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